«O mundo do culto e o mundo da cultura têm diálogos diferentes mas podem beneficiar de experiências comuns»

Monsenhor Manuel Leal Pedrosa


O projeto Inventário Artístico da Arquidiocese de Évora resultou do encontro entre duas vontades institucionais: a da Fundação Eugénio de Almeida em aprofundar e qualificar a sua missão no campo cultural, designadamente no que concerne à salvaguarda, valorização e divulgação do Património; e a da Arquidiocese de Évora em conhecer, preservar e abrir à fruição pública o seu património artístico móvel, numa perspetiva de evangelização e também de promoção cultural da sociedade.

Conforme o acordo de colaboração celebrado em 2002 e sucessivamente renovado, a Fundação foi a responsável pela conceção e pela gestão do projeto, tendo assegurado os recursos financeiros, técnicos e humanos necessários ao seu desenvolvimento. Por seu lado, a Arquidiocese de Évora foi a construtora zelosa e empenhada da ponte entre a equipa de inventariantes e os responsáveis pelas 158 paróquias envolvidas. A identificação destes com o escopo da iniciativa, o seu apoio atento e proactivo, bem como o interesse manifestado no acompanhamento dos trabalhos e na interlocução com os técnicos foram elementos essenciais à boa realização do projeto no terreno.

Foi assim que, fiel ao seu propósito institucional, e com sentido de futuro, a Fundação implementou durante 12 anos um plano geral de ação, tendo em vista identificar, estudar, dar a conhecer e valorizar uma parte significativa de um legado através do qual se expressou a Fé de uma comunidade e se construiu todo um referencial artístico e cultural representativo da Cultura Portuguesa.

Para tanto, a Fundação definiu uma estratégia integrada e articulada a dois níveis: o do inventário propriamente dito e o da divulgação dos seus resultados. Em ambos se revelou o carácter pioneiro e inovador do projeto, distinguindo-se a sua exemplaridade face a projetos similares de outras dioceses não só pela abrangência de conteúdos e de tipologias dos objetos inventariados, como pela sistemática e diversificada transmissão pública de conhecimentos, designadamente on-line, possibilitando uma utilização catequética, pedagógica e de aprofundamento histórico-artístico. Foram ainda criados outros instrumentos de mediação e de aproximação dos vários públicos aos acervos estudados, como contributos para o desenvolvimento de um verdadeiro processo de sensibilização alargada para as questões da cultura e do património. O projeto veio abrir novas perspetivas aos investigadores, à comunidade escolar, às instituições públicas e privadas e ao cidadão comum no que concerne à preservação e valorização deste património em concreto, mas também do Património num sentido mais lato, seja do ponto de vista do conhecimento, do aumento das oportunidades de fruição cultural, das boas-práticas de conservação e segurança, ou do desenvolvimento socioeconómico - particularmente relevante no quadro da promoção turística local, regional e nacional.

Impõe-se destacar aqui a coleção de edições que têm dado a conhecer algumas das mais emblemáticas peças estudadas nos diferentes concelhos, do ponto de vista histórico-artístico, cultural, científico e também da vivência da Fé pelas diversas comunidades (…).

Em O Labirinto da Saudade, Eduardo Lourenço observa que «o português médio conhece mal a sua terra, inclusive aquela que habita e tem por sua […]; [e isso] é um facto que releva de um mais genérico comportamento nacional, o de “viver” mais a sua existência do que “compreendê-la”».

Projetos como o Inventário Artístico da Arquidiocese de Évora fazem eco desta preocupação e procuram dar-lhe resposta. Compreender a nossa existência enquanto Povo passa pelo conhecimento de um legado não só de arte, mas também dos valores da espiritualidade cristã a ela associados, aos quais está vinculada a nossa História, a nossa Tradição e a nossa Cultura. Aí estão as raízes da nossa portugalidade, aí está fundada a nossa identidade nacional. Subestimar ou esquecer este património é perder como referência o elemento diferenciador que nos afirma culturalmente no contexto dos povos europeus.

A Arte Sacra é um património vivo cujo esplendor é preciso conhecer, partilhar, valorizar, salvaguardar. Para preservar a Memória. Para legar ao Futuro.

In Memória e Esplendor: Arte Sacra na Arquidiocese de Évora